O atletismo quase roubou da Seleção Brasileira de Handebol uma de suas estrelas। Em 1995, aos 16 anos, a pivô Dani Piedade, como é chamada, ainda era Daniela de Oliveira Piedade e competia no salto em distância e nos 100m rasos. Federada, a paulistana tinha o handebol apenas como mais um dos esportes que praticava na escola e nem imaginava que, hoje, estaria às vésperas de disputar seu quinto Campeonato Mundial, em São Paulo, torneio em que espera conquistar uma inédita medalha. "Estamos evoluindo cada vez mais e acredito que essa é uma das melhores equipes que o País já teve. A maioria das meninas joga na Europa e está acostumada com carga grande de treinamentos e jogos. Estamos confiantes e, com certeza, vamos superar 2005", disse a jogadora, referindo-se ao sétimo lugar no Mundial da Rússia, melhor colocação do Brasil na história da competição. "Eu, particularmente, acredito no bronze. Claro que precisamos ter espírito de grupo e jogar bem, mas o nível do nosso handebol nos coloca entre as primeiras. Se pensarmos pequeno, não alcançaremos nosso objetivo", completou.Depois de quatro edições - Itália/2001, Croácia/2003, Rússia/2005 e França/2007 - Dani sentirá o gosto mais do que especial de competir em casa. "Vai ser emocionante. O coração está a mil e a ansiedade é imensa. Quando entrei no avião, no caminho para o Brasil, a hora não passava. Vai ser muito importante contar com o apoio da família e de toda a torcida brasileira, que poderá nos conhecer um pouco mais."O pai de Dani, seu Francisco, teve papel fundamental em sua escolha. Foi ele quem deu um empurrãozinho decisivo para o futuro da filha. "Eu estava cansada, fazendo muitas coisas ao mesmo tempo na escola e treinava praticamente sozinha para o atletismo. Então, ele falou para eu optar por uma modalidade e eu fiquei com o handebol", contou a jogadora, hoje com 32 anos.A partir daí, a carreira da pivô deslanchou. Em 1997, fez teste na Hebraica (SP) e passou. Jogou lá até 1998. Nos três anos seguintes, atuou no Jundiaí, time em que conheceu a então técnica Rita Orsi, atual supervisora da Seleção. Em setembro de 2001, quando tinha 21 anos, o austríaco Hypo bateu em sua porta. "O clube veio fazer uma temporada no Brasil. Um empresário me viu jogando e fez uma proposta. Fui para a Áustria no começo de 2002 para atuar na base. Em seis meses, comecei no time principal e, em 2003, estreei na Champions League (Liga Europeia)."O começo foi muito difícil, especialmente pela dificuldade do idioma e por causa do frio. "Cheguei no inverno, com neve. Eu treinava de três a quatro vezes por dia, era bem puxado. Além disso, as atletas de lá, na época, não acreditavam no meu potencial. Tive de batalhar bastante para mostrar o quanto sou capaz. Graças a Deus, acho que hoje tenho reconhecimento, não só dentro da equipe, mas na Europa toda. Valeu muito a pena", lembrou-se Dani, que completa dez anos de Hypo em janeiro e abriu as portas para uma parceria entre o clube europeu e a Confederação Brasileira de Handebol (CBHb): hoje, o time conta com oito atletas do Brasil.Na Seleção adulta, Dani acumula 11 anos de história. Sua estreia foi em novembro de 2000, em uma edição do Pan-Americano de Seleções, competição em que conquistou o título quatro vezes. Ela também tem na bagagem o tricampeonato dos Jogos Pan-Americanos (Santo Domingo/03, Rio de Janeiro/07 e Guadalajara/2011).Em clubes, tem os títulos paulista e brasileiro com o Jundiaí e, pelo Hypo, levantou nove taças da Liga Austríaca, tendo sido eleita a melhor pivô nas últimas seis edições. Além disso, disputou duas finais da Champions, ficando com duas pratas. Outras competições que marcaram a vida de Dani foram as Olimpíadas de Atenas/2004 e de Pequim/2008, além dos quatro Mundiais. Do último - China/2009 -, não pôde participar por conta de compromissos com o seu time. Agora, o sinal está verde para fazer, mais uma vez, história.
Foto: Cinara Piccolo / Photo&Grafia